Auto-Re-A é um projeto em que procuro vários estereótipos de apresentação/representação de mim em diferentes contextos específicos, para me deter nas várias fronteiras – espaços de tensão e proximidade – que eles produzem. Como artista que também investiga por entre a matemática e os estudos da performance, e que é também viciada em análise de movimento e técnicas de dança como estereótipos que serão depois ferramentas de criação e investigação, estou muitas vezes em contextos diferentes onde, para corresponder às expectativas associadas aos estereótipos, tenho que desempenhar papéis muito diferentes. Durante cerca de uma década, senti que era uma pessoa diferente para cada circunstância: na universidade ensinava matemática a cursos de engenharia, economia, psicologia, entre outros, e era esperado que eu fosse séria e do tipo “académica clássica”; fora da universidade, fazia performances no underground de várias cidades, e era esperado que fosse cool e confiante. Fazia também apoio à investigação em vários projetos artísticos e era esperado aí que fosse eloquente e usasse um “certo tipo de discurso”.
Auto-Re-A surgiu de um desejo de criar atmosferas para fronteiras possíveis por entre as minhas auto-re-apresentações. Estas fronteiras estão preenchidas de diferença e tensão, bem como de proximidade – na fronteira, qualquer movimento pode fazer-te cair para um dos lados. É um espaço onde o equilíbrio é arduamente mantido e a frustração torna-se a acendalha da mudança. Nesta performance, desenvolvo quatro paisagens diferentes: ‘dança’, ‘caminhada’, ‘conferência’ e ‘ritual’, definindo os estereótipos, as frustrações associadas, e criando várias possibilidades performativas e cénicas.
Auto-Re-A é uma performance a solo, um desafio para estar só de novo, depois de dois anos a desenvolver peças de grupo sob condições pandémicas difíceis. É como voltar a casa depois de vários momentos transformadores, tentando reconhecer o movimento, o impulso, a direção, o batimento cardíaco.
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